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Sessões plenárias

 

Oradores convidados

 

 

Daniel Tércio | Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa

 

David CranmerCentro de Estudos de Sociologia e Estética Musical da Universidade Nova de Lisboa

 

José Camões | Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

 

Marie-Noëlle Ciccia | Université Paul Valéry - Montpellier

 

 

 

 

 

Resumos 

 

 

Daniel Tércio 

 

PROGRAMA SOCIAL DE UM CAVALHEIRO EM LISBOA NOS ANOS 1770

 

A partir da leitura das cartas manuscritas de M. Gaubier, pretende-se nesta apresentação traçar as rotinas de sociabilidade de um cavalheiro no ambiente de Lisboa no terceiro quartel do século XVIII. Com este propósito procurar-se-á contextualizar os dados de um sistema complexo onde coexistem academias, como a da Arcádia Lusitana, práticas de salão, teatros em grande atividade, como o do Bairro Alto, e uma Sociedade para a Subsistência dos Teatros Públicos, tudo sob a influência e/ou iniciativa política do Marquês de Pombal.

Duas questões conduzem a apresentação: primeiro, como é que os espaços públicos se articulam com os espaços privados e vice-versa? A hipótese de contiguidade entre espaços resulta justamente da abertura das portas dos palácios aos sábios e da transformação dos atos de corte em espetáculo para o grande público.

Uma segunda questão tem a ver com o lugar da dança no quadro de tal articulação. Na década de sessenta haviam sido publicados em língua portuguesa os primeiros manuais de dança, não apenas fixando formas de dança como o minuete e as contradanças, mas também contribuindo para a regulação de comportamentos sociais quotidianos. Ao mesmo tempo, em Lisboa estavam dezenas de bailarinos, contratados sobretudo em Itália, para dançarem à séria ou em grotesco. E nos painéis de azulejaria historiada, que cobriam paredes e muros de espaços palacianos, parecia refletir-se a vibração bailatória de uma sociedade que queria dançar à francesa.

 

 

 

 

David Cranmer 

 

PRIMA LA MUSICA, POI LE PAROLE? – PROBLEMÁTICAS NA RECONSTITUIÇÃO DA MÚSICA DO TEATRO PORTUGUÊS SETECENTISTA

 

A ópera em um ato, Prima la musica, poi le parole, com texto de Giovanni Battista Conti e música de António Salieri, embora composta com a intenção de satirizar certas práticas na ópera italiana do seu tempo – especialmente a eventual primazia da música em relação ao texto –, tem um título curiosamente pertinente no que diz respeito ao vasto repertório setecentista de teatro popular em língua portuguesa – óperas portuguesas e comédias, entremezes e farsas –, muitas vezes com alguma, senão bastante, música prevista. Pouca dessa música, porém, chegou até aos nossos dias. Quando, de facto, sobrevive ainda, está quase sempre incompleta. Por sua vez, nem sempre foi conservado o texto da peça teatral correspondente, e mesmo que exista, as músicas que possuímos são frequentemente diferentes daquelas indicadas no texto.

 

Face a esta realidade, a edição crítica – o que exige não apenas uma leitura rigorosa das fontes disponíveis, decisões editoriais baseadas em critérios científicos e todo um aparato crítico que fundamenta a edição – simplesmente não é viável. O princípio de intervenção mínima da parte do editor – uma das chaves da edição crítica – não é de todo realista.

 

Nesta apresentação, procuramos expor, com exemplos concretos, a natureza das dificuldades intrínsecas às fontes deste repertório, e propor uma nova tipologia de edição – a “edição criteriosa”, que, apesar de se basear em critérios científicos rigorosos, permite ao editor a liberdade de reconstituir e adaptar com criatividade uma edição viável em termos dramáticos e musicais.

 

 

 

 

 

José Camões 

 

LABIRINTOS INCONSTANTES ENTRE PALCOS E OFICINAS: PERCURSOS DO TEATRO EM PORTUGAL DO SÉCULO XVIII

 

O século XVIII conheceu intensa actividade teatral que se desenvolveu em duas dimensões contíguas: o espectáculo e a impressão. Quer uma quer outra seguiam os mesmos trâmites burocráticos conducentes ao licenciamento, se bem que os resultados nem sempre fossem coincidentes. A partir da documentação gerada nesse processo (originais manuscritos de peças, requerimentos, despachos, etc.), é possível reconstituir fragmentos da História do Teatro, identificando locais de representação, agentes teatrais envolvidos (autores, actores, músicos, empresários, administrativos), géneros representados, a par de elementos da História da Tipografia Teatral, dando conta de oficinas e impressores, géneros publicados, estratégias de comercialização. Este exercício pode ajudar a fixar o lugar sociocultural de um produto que, a um tempo, ia ao encontro das apetências do público e dinamizava uma necessitada economia de mercado

 

 

 

 

Marie-Noëlle Ciccia 

 

TEATRO EM CASA: ASSEMBLEIAS, FUNÇÕES, COMÉDIAS NO SÉCULO XVIII

 

Depois do terramoto de Lisboa, novos tipos de sociabilidades vão-se desenvolvendo, entre os quais a moda de organizar reuniões de amigos e parentes em casas particulares. Essas festas, chamadas assembleias ou funções, eram um verdadeiro palco social em que os convivas desempenhavam papéis, afectando modos, alguns inspirados pelos costumes estrangeiros. Além da música e das danças, também se jogava às cartas, se bebia chá, se comia biscoitos e até, em certos casos, se representavam comédias e entremezes. O próprio teatro de cordel reflecte estas novas sociabilidades para, na maior parte dos casos, ridiculizá-las ou, melhor, ridiculizar quem era incapaz de manter comportamento virtuoso frente a tais modas.

 

No presente estudo, depois de mostrarmos de forma detalhada como as assembleias são representadas no teatro popular da segunda metade de Setecentos, interrogar-nos-emos sobre as noções de “parecer” e “ilusão” para tentar evidenciar o facto de que esse “teatro em casa” é, na verdade, um “teatro dentro do teatro” em sentido lato, mais destinado à correcção dos costumes do que ao simples divertimento da população lisboeta.

 

 

 

 

 

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